The Last Waltz: O Útimo Concerto de Rock

The Last Waltz: O último concerto de Rock, finalizava a atividade do The Band nos palcos (pelo menos por alguns anos).

Ele ocorreria no dia de ação de graças em 76 e dois anos depois seria exibido nas telonas sob a direção de Martin Scorsese. Tanto a ideia do encerramento quanto a produção em si rendem muito assunto. A simples despedida evoluiu numa produção extremamente ousada. A exuberância do evento chegava a ofuscar o quebra pau interno do grupo.

Sob o pretexto de Richard Manuel ter sofrido um acidente de barco, o guitarrista Robbie Robertson estipulou um fim para os shows onde todos se focariam nos registros de estúdio. Por ironia fariam apenas mais um álbum por questões contratuais. Havia um ressentimento por Robertson receber o grosso da publicidade e royalties das canções. Este se defendia dizendo que os demais estavam dispersos demais nas drogas, por isso fora obrigado a assumir as rédeas.

Dessa intriga foi estipulado um show solo no Winterland Ballroom local onde 10 anos antes haviam se apresentado de fato como The Band. Depois estenderam a ideia para incluir Ronnie Hawkins e Bob Dylan dos quais já foram músicos de apoio, a coisa toda englobou mais astros musicais: Muddy Waters, Neil Young, Joni Mitchel, Paul Butterfield, Dr. John, Emmylou Harris, Eric Clapton, Ringo Starr, Neil Diamond, Van Morrison e muitos outros.

A ideia de registrar em vídeo também era simplista, porém engrenou quando o seu empresário Jonathan Taplin, produtor do filme ‘Caminhos Perigosos’, de Martin Scorsese, sugeriu o diretor para fazer um documentário. Scorsese havia patinado após o seu infrutífero musical ‘New York, New York’, a chance de filmar a despedida do The Band teria não apenas projetado o diretor outra vez, mas seria o primeiro de muitos de seus documentários envolvendo música. Sob a sua orientação haviam os cinegrafistas de filmes como Touro Indomável, Contatos Imediatos e Easy Rider. O evento não poupou nada durante sua execução: Teve comida de ação de graças, orquestra, poetas até ocorrer a apresentação do The Band interagindo com outros ícones.

Seu repertório ficou concentrado nos três primeiros discos ainda que houvessem alguns sons posteriores na lista. Some a isso uma espécie de revisitação de certas canções durante suas vidas passadas como The Hawks e outras alcunhas transitórias até se firmarem como The Band. Entrecortando os números musicais, há diversos relatos sobre a sua árdua trajetória: da sua partida do Canadá após sua parceria com Ronnie Hawkins ao choque cultural ocorrido quando viveram em Nova Iorque além de uma abortada parceria com o gaitista Sonny Boy William II. Dividem memórias de quando eram obrigados a roubarem alimentos dos supermercados e suas apresentações nos pulgueiros boêmios. The Last Waltz faz o excelente trabalho de não apenas dizerem adeus como apresentam os artistas para novas audiências.

Para construírem todo esse monumento ao The Band, muitos contratempos e polêmicas rechearam a produção. A primeira delas foi a inexperiência da equipe em filmar esse tipo de coisa, no final parte dos cinegrafistas bateram de frente com o diretor e diversas cenas foram perdidas, não bastasse o excesso de cocaína consumida pelos artistas e pelo staff responsável pelo documentário. Uma outra complicação que tiveram foi de negociarem a aparição de Bob Dylan que também estaria trabalhando no seu projeto cinematográfico pessoal, Renaldo and Clara. The Band aceitou demorar o lançamento e provavelmente o organizador do evento, Bill Graham mexeu seus pauzinhos para a coisa acontecer. Lembrando que o empresário promovia shows das várias lendas que estiveram presentes no festival de Woodstock.

Agora as maiores polêmicas envolvem a questão de parte dos artistas de um modo geral fingirem estar cantando ou tocando instrumentos, além do favoritismo dado ao guitarrista em comparação a baixa exposição dos demais integrantes. Pelo menos foi uma reclamação feita pelo membro Levon Helm. Isso apenas colapsaria as relações de Helm, Hudson, Danko e Manuel contra Robertson que filaria os ganhos da produção junto de Martin Scorsese. Anos depois, The Band voltaria a estrada sem Robbie Robertson, principalmente por questões financeiras, além de perderem 10 anos depois Richard Manuel que cometeria suicídio em 86.

The Last Waltz é uma joia perdida que merece contracenar ao lado de outros shows lendários melhor popularizados. The Band pode não ter sido catapultada no mainstream, em parte pela postura fechada do grupo. Porém, ela sempre recebeu elogios da crítica e sua contribuição para o rock foi importantíssima. Ter acesso a um de seus shows contracenando ao lado de gigantes da música só triplica a ótima experiência. Se puder, busque também a coletânea em CD deste concerto. Apresenta muito mais faixas do que foi mostrado nas telas.

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