Private Parts (1997): A auto-biografia de Howard Stern, o rebelde do rádio

No Brasil, poucos conhecem, mas dentro dos Estados Unidos, Howard Stern é um dos radialistas mais famosos do país na proporcionalidade das polêmicas que catapultaram sua fama na Terra do Tio Sam. Não a toa, se auto intitulou “rei de todas as mídias” aludindo ao título de “rei do pop” que Michael Jackson impôs ao mundo no começo dos anos 90. Foi um dos primeiros DJs matinais de rock a ser transmitidos costa à costa no país com picos de audiência na casa dos milhões de ouvintes, número parelho ao salário firmado nas últimas rádios por onde passou, mais uma vez, outra proeza pessoal conquistada.

A sua fórmula de sucesso era direta ao ponto: Ser autêntico e não temer chocar a América do Norte pelo rádio. Ainda que num programa matinal, Stern trouxe o radicalismo do rock para o rádio e desafiou sua esfera midiática. Fazia comentários ácidos não controlando o humor negro; chamava gente impensável para uma estação de rádio como prostitutas e estrelas pornô, fazia os tradicionais trotes, não dispensava um barraco e até arranjava encrenca com seus colegas de estações – atacava sem dó a religião e não temia o baixo calão.

“O Rei da Baixaria” é a adaptação da autobiografia best-seller de 93, “Private Parts”, homônima ao título original. Ela tinha o desafio implícito de conseguir emplacar o DJ nas demais esferas midiáticas. A produção levou uma quantidade razoável de tempo, pois Stern rejeitava as centenas de equipes desejosas em filmar seu projeto pessoal. Não a toa, há toneladas de transcrições sobre a turbulenta fase de produção do filme finalmente comercializado nos cinemas em 97. O elenco conta com o próprio Howard Stern narrando e protagonizando sua trajetória ao lado de Robin Quivers e Fred Norris seus colegas de longa data.

A princípio o filme começa o enredo no MTV Awards cuja premiação teria Stern descendo por cabos, fantasiado de Fartman, personagem de uma longeva revista humorística americana chamada National Lampoon, personagem esse que atiçou o DJ a entrar no mundo cinematográfico quando quis adaptá-lo. Depois do papelão na festa, Stern se sente ridículo enquanto passa por outros artistas nos bastidores, incluindo uma rápida aparição de Ozzy Osbourne e Dee Snider. Howard via-se ridículo, incompreendido pelos outros sobre sua visão de proporcionar um espetáculo alucinado dia após dia, num tipo de missão para inspirar futuras gerações. Logo depois, o radialista senta numa poltrona de avião ao lado de um mulherão que apesar da passageira estar receosa em sentar-se próxima a Stern, ocorre uma empatia e toda a narrativa do filme viaja no tempo, desde sua infância.

Stern era filho de judeus nova iorquinos do Queens. Desde garoto, tinha gosto pelo espetáculo ao fazer teatros de marionetes já apavorando seus espectadores com baixaria. Ele acompanha seu pai na função de engenheiro de comunicação numa rádio e testemunha eventuais bate bocas dele contra radialistas.

Depois vemos sua trajetória universitária, visando a mesma profissão do pai, onde ele era bem mais velho e desajustado entre os estudantes. Ali ele conquista o seu grande amor e futura esposa, Alison, interpretada por Mary McCormack. Stern ao longo do filme passa por rádios chinfrins, desafia executivos tão gananciosos quanto moralistas e inicia amizades duradouras com Fred Norris e Robin Quivers.

Esse primeiro bloco do filme explora mais suas origens, dificuldades financeiras, mesmo seu casamento sofre altos e baixos, seja a gestação de Alison, briga sobre possíveis adultérios de Howard ou a transparência total da intimidade do casal, onde o radialista até troça do aborto involuntário de sua esposa.

A segunda parte é a briga de Howard Stern contra seus novos contratantes da WNBC, pertencente ao conglomerado da NBC, período antes do apresentador assinar com a WXRK e ter sua longeva e multimilionária carreira de 20 anos no The Howard Stern’s Show. Os executivos não estavam cientes de seus programas anteriores, apenas fazem um contrato gordo pela grande audiência que possuía. Ao invés de simplesmente rescindirem o contrato, tentam moldar Stern para a imagem da companhia. A guerra então toma forma. Os executivos botam Kenny “Pig Vomit” Rushton (Paul Giamatti) para disciplinar Howard e servir de censor devido as eventuais visitas da agência de comunicações. Toda instrução dada por Kenny é troçada ou devolvida numa grosseria maior. Kenny tenta de todo jeito bolar planos que amenizem Stern. Num dado momento Quivers é demitida, em retaliação, o DJ não descansa até ela retornar para a equipe do programa escancarando a podridão dos executivos, fazendo Kenny de gato e sapato não deixando sequer outros radialistas incólumes.

O filme é um misto das típicas comédias grosseiras dos anos 90 sob uma fórmula de combate ao sistema. Mistura narrativa documental e algo próximo do seriado “Todo Mundo Odeia o Chris”. Os excessos não são mero exercício de ficção, eles retratam grande parte dos escândalos cometidos pelo radialista de gradativa popularidade na tv e rádio. Stern e a dupla de radialistas cumprem bem o papel, McComark é a grande personagem coadjuvante dando credibilidade ao ser alicerce para Howard seguir em frente. Kenny faz aquele típico papel de antagonista pedante, cria a catarse cômica no espectador a cada absurdo feito por Stern. É totalmente indicado pros carentes de comédias clássicas e serve de tira gosto para se conhecer a vida do radialista, muito mais ampla daquilo exibido nas telonas.

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