Rematte: Dissolvendo a raiva com riffs frenéticos e dissonantes

O quarteto cearense Rematte lançou recentemente em todas as plataformas de streaming, e em formato de videoclipe, seu novo single: “A Cerca”.

A música é o segundo lançamento do grupo este ano, e desta vez conta com a parceria do selo Electric Funeral Records.

O grupo formado por Daniel Gadelha (vocal), Álvaro Abreu (bateria), Jonas Monte (baixo) e Thiago Barbosa (guitarra) põe toda a raiva para fora, apresentando uma musicalidade mais pesada, com riffs frenéticos e dissonantes, além de uma letra que fala sobre as desigualdades sociais cada vez mais gritantes em nosso país, como conta Daniel: “O texto é uma costura de reflexões e críticas sobre a nossa sociedade, que está metaforicamente (ou não) recortada por “cercas invisíveis”, que não enxergamos, mas que são tão sólidas quanto o ódio de quem as cria e de quem as vivencia. Cercas sociais, raciais, econômicas, religiosas, e todas aquelas que subtraem da humanidade a capacidade de perceber a existência do outro, do coletivo, da diversidade, e o prejuízo impagável que isso imprime em uma visão de mundo mais justa”.

Veja a entrevista cedida com a banda sobre sua trajetória, influências musicais, processo de composição e criação, entre outras curiosidades.

De onde surgiu esse nome “Rematte” O que levou a banda a esse nome?
Álvaro Abreu – A banda começou como um resgate de um antigo projeto que tínhamos há 15anos atrás, chamado “Redoma”. Quando voltamos, descobrimos que durante nosso hiato apareceu outra banda, no sul, de mesmo nome, que teve uma carreira mais prolífica que a nossa, inclusive abrindo para bandas internacionais. Então resolvemos começar realmente “do zero” com outro nome. Depois de muita procura, surgiu “Remate”, que quer dizer o último ato para a conclusão de alguma coisa, e também o ápice, apogeu ou extremo de algum sentimento. E achamos que se encaixou bem com nossa mensagem e estética. Já o segundo “t”, veio após lançarmos o primeiro EP, quando descobrimos um outro artista, espanhol, de mesmo nome. Para não dar conflitos nas plataformas, nos tornamos “Rematte” e aquiestamos.

Como a banda surgiu?
Álvaro – Em 2017, eu e o vocalista Daniel Gadelha estávamos conversando sobre esse projeto antigo e percebemos que as letras das músicas que tínhamos escrito lá atrás faziam muito mais sentido agora do que antes, e que ainda eram mensagens que gostaríamos de transmitir hoje em dia. Então o chamei pra voltarmos o projeto ele encarou o desafio. Nosso primeiro EP foi exatamente uma releitura de músicas antigas com uma música inédita. Apesar desse resgate, consideramos o Rematte com uma banda totalmente nova e única pra gente, pois além de sermos pessoas diferentes de 15 anos atrás, nossos companheiros Jonas Monte e Thiago Barbosa vieram para trazer suas vivências e somar ao projeto.

A banda acaba de lançar single e clipe faixa “A Cerca” como foi o processo de composição e gravação desse single? E como surgiu a concepção para o clipe da música?
Álvaro – “A Cerca” é uma música que explora nosso lado mais pesado. Com tudo que está acontecendo em nosso país (descaso com a pandemia, exploração do trabalhador, crescimento de ideias fascistas, intolerância social, racial, religiosa, etc) resolvemos traçar um paralelo dessas opressões com cercas. Cercas essas que nos mantém presos, nos dividem, nos privam de viver melhor. É nosso grito contra tudo isso. Com a quarentena, o processo de gravação foi bem louco, totalmente diferente do que já havíamos feito. Com a supervisão do nosso produtor musical e parceiro Matheus Brasil (Matt B), gravamos cada instrumento separadamente, em locais diferentes, uns em estúdio e outros em casa mesmo. Depois, o Matheus fez a mágica de juntar tudo, mixando e masterizando. Ainda rolou a parceria com o produtor e engenheiro de som Zeca Leme, do estúdio BTG, em Sâo Paulo, que fez um “reamp” nas guitarras e deixou o som ainda mais incrível. Já no clipe, trabalhamos novamente com o músico e videomaker Vicente Ferreira, que já havia feito o clipe de “Sob o Luar” e entende bem o que passa na nossa cabeça. Tivemos a ideia de fazer um recorte da própria música e abordar o problema territorial de Fortaleza, cidade que vivemos. Com as diversas obras de mobilidade urbana, da copa e de empreendimentos comerciais, muitas famílias foram despejadas de suas moradias e muitas delas não tiveram qualquer tipo de auxílio e ainda estão sem um lugar digno para morar. Para isso, juntamos às imagens da banda tocando cenas do documentário “Cartas Urbanas” e de vídeos de famílias sendo despejadas, todos feitos pelo coletivo audiovisual Nigéria, já conhecido por essa produção voltada ao social.

A faixa foi muito bem recebida pelos sites de música especializada do país. Como a banda está vendo esse feedback tão positivo do material lançado?
Álvaro – Estamos muito felizes com a repercussão do single! Por ser uma música mais pesada, não achávamos que teria o alcance que está tendo. Ouso dizer que a recepção tem sido melhor que a de “Sob o Luar”, single anterior, com uma pegada mais “palatável” por assim dizer! Hahaha.. Pra gente é incrível ver o nosso som chegar a cada vez mais pessoas, principalmente fora da nossa cidade. E a ideia é expandir o som cada vez mais!

Suas músicas demonstram intensidade e entrega total por parte da banda. Existe alguma composição que seja mais especial para vocês?
Álvaro – É difícil ter que escolher um filho preferido, né?! Mas os dois últimos singles que lançamos certamente tem um lugar especial pra gente, pois já nos proporcionaram diversas oportunidades, fizeram nosso público crescer bastante e mostram vários horizontes artísticos que podemos explorar. Isso dá um gás ainda maior para continuar!

Quais as bandas e fontes artísticas que inspiram o som da banda?
Álvaro – Parece clichê, mas realmente nossas influências são as mais variadas possíveis. Eu e o Daniel curtimos muito Deftones, POD e bandas com essa estética do subestimado “nu metal”, ao mesmo tempo que escuto sons mais pesados, como Project46 e Slipknot e ele escuta sons mais leves, como Chico Buarque, Tim Maia e muita MPB (o que ajuda na composição das letras). Jonas tem uma pegada mais hardcore e Thiago curte sons indies e muita MPB também. E tem, claro, os sons que são unanimidade, como Rage Against the Machine, Audioslave, Foo Fighters, Metallica, entre outros. Acredito que essa variedade é que dá a nossa cara pro som.

Como vocês estão lidando com a pandemia de covid 19? Que tipo de interação a banda está tendo com o público nesse momento de quarentena?
Álvaro – Os primeiros meses foram bem difíceis! Ficamos praticamente parados apenas movimentando as redes, reforçando pra galera se cuidar, e cuidando de nós mesmos e nossas famílias. A partir do segundo semestre conseguimos achar uma dinâmica e começamos a fazer algumas lives, gravamos vídeos para festivais online e voltamos, dentro do possível, para uma rotina de apresentações. Temos consciência que não faremos shows do modo que fazíamos enquanto não houver uma vacina. Então temos que nos virar no mundo virtual. A quarentena nos deu a oportunidade de poder gravar e lançar o single e o clipe. É o nosso presente para as pessoas que nos acompanham, enquanto não podemos nos ver presencialmente. E também estamos sempre à disposição nas redes, pros amigos que querem trocar uma ideia com a gente. É só mandar um salve!

Podemos esperar material inédito no ano que vem?
Álvaro – Claro sim! Nossa ideia inicial era lançar pelo menos 3 singles nesse ano. A pandemia deu uma rasteira, mas conseguimos lançar dois. Agora estamos estudando as possibilidades. Queremos muito lançar mais um EP ou até um disco cheio. Ideias não faltam! Porém, antes disso acontecer provavelmente lançaremos mais um single. Compor um disco é um processo demorado, e como os shows estão escassos, temos que nos manter sempre na ativa.

Quais os planos para 2021?
Álvaro – Lançar vários materiais inéditos, investir ainda em material online, como lives e sessions, e torcer pra que essa vacina chegue o mais rápido possível para que possamos voltar aos palcos. Temos muita vontade de tocar em outras cidades, mostrar nosso som para outros públicos. Esperamos poder fazer isso ano que vem! No mais, quero agradecer demais o espaço! Quem quiser nos conhecer e conhecer o som, é só procurar por “Rematte banda” nas redes sociais e nas plataformas de streaming. Tamo junto!

FONTE: Collapse Agency

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