Duas atrações de peso no mesmo dia, em uma das melhores casas de show do Rio de Janeiro, o Hard Rock Cafe. Joe Lynn Turner, lenda do Classic Rock, que passou por bandas como Rainbow e Deep Purple; e L.A. Guns, uma das principais bandas do cenário hard rock de Los Angeles, dos anos 80 e início dos 90. Um prato cheio para fãs de boa música em forma de rock n’ roll!
Os Los Angeles Guns foram a primeira atração da noite. Banda formada pelo excepcional guitarrista Tracii Guns, seu filho(!!!) Jeremy Guns no baixo, Chad Stewart na bateria e pelo ótimo vocalista Jizzy Pearl (ex- Love/Hate).
Tracii no palco é algo inexplicável! A garra, a fúria, a presença, o domínio do instrumento, a simpatia… foi uma das maiores perfomances de um guitarrista de rock´n´roll que já vi em minha vida. Talvez a maior. Tento me esforçar, mas não lembro de algo tão avassalador, tão rock´n´roll na veia. Nunca me empolguei tanto vendo um guitarrista tocar na minha frente. Foi lindo!
Todos os clássicos estavam lá: “Sex Action”, “One More Reason”, “Eletric Gypsy”, “Bitch Is Back”, “Rip And Tear”, “Never Enough”. Um seguido do outro. Era como um sonho ver o cara, a um metro de mim, tocar os sons que cresci ouvindo. Fazia tempo que eu não curtia tanto um show como curti o L.A. Guns!
Jizzy Pearl, substituiu o vocalista original Phil Lewis à altura. Boa presença de palco, brincava com as pessoas da primeira fila e se divertia muito com Tracii, demonstrando o prazer que estão tendo de tocar juntos novamente. Jizzy, já lançou um álbum com a banda, chamado “Shrinking Violet” em 1999, e dez anos depois, volta a detonar nos palcos ao lado de Tracii. Tocaram uma música desse cd, chamada “Decide”, que diga-se de passagem, ficou bem melhor ao vivo, com um punch cativante, graças à pegada animalesca do batera Chad Stewart, que também fez backings fortes que deixaram o refrão na cabeça.
Jeremy ainda é um pouco tímido no palco, mas faz uma linha de baixo bem segura e também se arrisca em alguns bons backing vocals. É muito legal ver pai e filho tocando juntos. Apesar de que, no show, cada um fica de um lado e não interagem muito.
A bela “The Ballad Of Jayne” emocionou os fãs, assim como a versão de “Knocking On Heaven´s Door” de Bob Dylan, onde o público cantou empolgado.
Algumas ótimas surpresas foram o trecho de “Hell´s Bells” do AC/DC, e “Blackout In The Redroom”, clássico marcante do Love/Hate, ex-banda de Jizzy. Fui ao delírio nessa, pois não esperava que fosse tocada.
“No Mercy” foi destruidora. Tracii tocando essa música valeu o ingresso. Que riff! Que solo! Meu amigo Danny quase infartou de emoção e invadiu o palco para abraçar o Tracii, e o segurança gigantesco quase o jogou para fora do estabelecimento. (risos) Tracii se preocupou, pediu para trazê-lo de volta e mostrou não só nesse momento, como durante as fotos e autógrafos depois do show, o quanto é atencioso e amável com os fãs.
Show perfeito. Nota 10. Primeira parte da noite e eu já estava de alma lavada. Mas ainda faltava o grande Joe Lynn Turner! Era hora de tomar uma cerveja, dar uma relaxada, lavar o rosto e voltar pro rock´n´roll.
Eu tive a oportunidade de ver show do mestre Joe anteriormente, então já sabia o que estava por vir: grande voz e performance única.
A abertura foi com “Death Alley Driver” do Rainbow. O clima rocker imperou no Hard Rock Cafe e os fãs se aglomeraram na beira do palco. Joe com seu jeito canastrão maravilhoso, entrou com óculos escuros, fazendo mil caras e bocas, mandando beijinhos e arriscando dancinhas. Grande fanfarrão! Sabe fazer o clima ficar divertido. A voz estava potente como sempre.
Era legal olhar em volta, e ver que o rock não tem idade: tinha desde a garotada (que sabia cantar os clássicos dos anos 70 e 80!) até os coroas, felizes da vida, pulando e cantando como meninos!
“I Surrender” me levou ao êxtase! Refrão maravilhoso. Minha música favorita do Rainbow com o Turner. “King Of Dreams” também foi ótima, lembrando os tempos de Joe no Deep Purple.
O que dizer de um show com músicas como: “Jealous Lover”, “Can’t Happen Here”, “Highway Star”, “Can’t Let You Go” (Joe cantou muito nessa!), “Street Of Dreams”? Perfeito!
O ponto alto do show foi a homenagem ao eterno Dio, feita por Joe antes de cantar “Man On The Silver Mountain”, onde ele se emocionou e levou muitos da platéia às lágrimas. Aliás, era grande o número de pessoas no público com camisas do Dio e do Rainbow, dando uma grande demonstração de que o artista se foi, mas sua obra ficará para sempre. Todos entoaram: “Dio! Dio! Dio!”, ao fim da música. Joe pedia para gritarem alto, pois assim, Dio ouviria do céu. Foi muito bonito. Mas os segundos de tristeza no coração dos fãs duraram pouco, porque Turner desfilou vários clássicos do Rainbow que os deixaram com sorriso no rosto: “Stargazer”, “Gates Of Babylon” (o guitarrista Betovani tocou muito nessa) e a clássica “Long Live Rock And Roll” para delírio de todos, que cantaram o refrão sem parar. No meio dessa última, rolou uma parte de “Black Night” do Purple. Aí, a festa já era total.
A turnê se chama “Blood Red Sky”, mesmo nome de uma música maravilhosa do último álbum solo de Joe, “Second Hand Life”, que foi tocada com maestria na apresentação. Betovani mandou ver em seu riff matador. Um videoclipe dela será gravado aqui no Brasil, num histórico castelo em Caxias do Sul, com produção da empresa “Moving!”. Vamos aguardar!
Não posso deixar de ressaltar a “cozinha” que contava com o baxista “Andy Robbins” (que tocou na “Holy Soldier”, clássica banda de white metal) e o baterista Garry King. Entrosados e afiados, fizeram um ótimo trabalho, dando tranquilo suporte ao improviso de Joe em algumas músicas.
O tecladista “Bruno Sá” é um velho conhecido meu. O cara é um monstro nos teclados. Ele tocando a intro de “Endlessly” e de “Perferct Strangers” foi de deixar todos de boca aberta. Fora o solo de “Highway Star”. Deu orgulho de vê-lo ali, pois o acompanho desde uns 12 anos atrás, em shows no antigo Garage, quando ele tocava com a banda Allegro. Parabéns, garoto! Posso dizer, sem medo de errar, que hoje, você é um dos maiores tecladistas de rock, não só do Brasil, mas do mundo.
O show ainda contou com participações mais do que especiais. Na música “Stone Cold”, uma das minhas favoritas, o guitarrista Davis Ramay foi convidado por Joe para tocar. Davis foi o guitarrista de uma turnê passada de Joe aqui no Brasil. Então, ele estava “em casa”. Começou de mansinho, mandando ver em sua guitarra cheia de estrelas, acompanhando o ritmo devagar da música no início, cresceu junto com o peso do refrão e roubou a cena com sua pegada monstruosa. Solou forte e fez suas tradicionais jogadas de cabelo. Os sorrisos nos rostos dele e do Joe não deixavam dúvidas do quanto gostam um do outro e sentem prazer de tocar juntos. Mais um momento marcante de um belo show!
Para a rápida e energética “Spotlight Kid”, foram convidados Diego Padilha (baixista da turnê anterior) e Neube Brigagao para tocar guitarra. Mandaram muito bem, conseguindo manter o nível da banda do show, com uma performace contagiante. Neube continuou para a música seguinte, “Smoke On The Water”, provavelmente um dos cinco riffs de guitarra mais conhecidos da história do rock. Nessa, o batera “Chad Stewart” do L.A. Guns, fez participação especial também.
Para encerrar a noite perfeita, a banda que começou o show, retorna e fecha com “Burn”! Clássico dos clássicos. Todos cantaram, curtiram, suaram e saíram extasiados.
Foi inesquecível. Dois shows maravilhosos. O bom e velho rock´n´roll ainda vive, e pulsava forte no coração de cada um dos presentes no Hard Rock Cafe!
Texto: Thiê Rock
Fotos: Joana Martins