Erasmo Carlos reabre a guarda do samba ‘jovem’ para o balanço do rock

Na foto da capa do álbum Quem foi que disse que eu não faço samba…, Erasmo Carlos aparece com pandeiro meia lua na mão.

A guitarra – instrumento associado ao rock, gênero do qual o artista carioca é pioneiro patrono no Brasil – está oculta na capa, mas permanece na roda de samba-rock reaberta pelo cantor e compositor em álbum com dez músicas em oito faixas, erroneamente apresentado como EP, formato que compreende discos de quatro a sete faixas.

Ouvida nos toques dos músicos Luiz Lopez e Billy Brandão, a guitarra está presente no disco porque o samba de Erasmo é, e quase sempre foi, samba-rock, ritmo que pauta o álbum lançado na sexta-feira, 20 de dezembro, pela gravadora Som Livre.

Neste sentido, o Tremendão jamais reinventa a roda neste álbum em que cai no balanço jovial do samba-rock com arranjos que misturam percussões (a cargo de Ronaldinho Silva e Vanderlei Silva) e instrumentos associados ao tripé básico do rock, como o baixo, ouvido no toque de Pedro Dias.

O disco é sedutor, por mais que haja baixo teor de novidade tanto na batida (recorrente em gravações dispersas na discografia do artista) como no repertório, formado por sambas compostos por Erasmo ao longo de 60 anos de carreira mais voltada para o rock.

Alguns nunca foram gravados pelo Tremendão, caso do surrealista samba-rock A história da morena nua que abalou as estruturas do esplendor do Carnaval (2002), parceria de Erasmo com Max de Castro, intérprete original do tema.

Outros permaneciam inéditos, caso de Maria e o samba, composição de juventude, feita por Erasmo em 1959 para Roberto Carlos cantar na temporada que o então cantor plebeu cumpria em boate carioca.

Os arranjos do disco Quem foi que disse que eu não faço samba… de certa forma reverenciam o suingue matricial de Jorge Ben Jor, cantor que apontou em 1963 um caminho que seria seguido na década de 1970 por gente aberta a novidades, como o próprio Erasmo.

Sem se afastar desse caminho, o Tremendão recicla Mané João (Erasmo Carlos e Roberto Carlos, 1972) no disco e aborda Moço (Erasmo Carlos e Roberto Carlos, 1972), composição da trilha sonora original da novela O bofe (TV Globo, 1972), inteiramente assinada por Erasmo e Roberto.

Samba-rock lançado pelo grupo Clube do Balanço há 15 anos, e até então inédito na voz do autor, Sem anjo na multidão (Erasmo Carlos, 2004) é um dos achados do repertório. Mas Samba rock (Billy Moore, Johnny Brandford e Reg Simpson em versão em português de Erasmo Carlos, 1986) também passa cheia de graça, com Erasmo imitando o sotaque em inglês de turista americano em visita à cidade do Rio de Janeiro (RJ).

“Tem rock no samba”, admira-se Erasmo, fingindo espanto ao dar voz a verso desta música, cuja gravação eventualmente remete ao balanço internacional da bossa, evocada de longe também na levada leve do Samba da preguiça (Erasmo Carlos e Roberto Carlos, 1973).

Salpicados com sutileza ao longo do disco, sons de órgão lembram a Jovem Guarda, sobretudo no sacudido medley que agrega três sambas da safra juvenil de Erasmo em 1965 – O menino e a rosa (com Roberto Carlos), Moço, toque um balanço (também com Roberto) e Samba na palma da mão – nunca gravados pelo autor.

Aliciante, a cadência bonita do medley sobressai no disco e sinaliza que, na obra de Erasmo Carlos, o samba permanece jovem quando abre a guarda para o balanço do rock.

FONTE: https://g1.globo.com

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