Entrevista com Kane Roberts

Eu estive em contato com Kane Roberts por um bom tempo, muito antes de ele ser anunciado como uma das atrações do Firefest desse ano. Eu não só queria muito conhece-lo pessoalmente, mas também queria muito uma entrevista com ele, que ele gentilmente aceitou em fazer, mesmo antes que nós dois deixássemos nossos respectivos países para nos encontrarmos em Nottingham, na Inglaterra. Essa entrevista foi feita horas antes de seu show no festival. Aqui ele fala de seu passado, presente e futuro. Ele foi um cara muito legal, e esperemos que um novo álbum realmente seja lançado! É ótimo ter Kane Roberts de volta!

Rockzone: Por favor, Kane, o que você pode dizer sobre o início de sua carreira, antes de juntar-se à banda de Alice Cooper?

Kane: Eu e minha banda, como qualquer outra, estávamos tocando em Nova York, clubes de strip, clubes grandes e alguns clubes diferentes em Nova York, apenas para manter o processo criativo fluindo… nós necessariamente não fazíamos isso por dinheiro. Se eu quisesse fazer dinheiro eu tinha que fazer outras coisas – eu costumava cartear nessas casas ilegais em Manhattan, eles alugavam um quarto de hotel todos os finais de semana e então, depois de tocarmos, pegávamos nossos 20 dólares cada um, pois tocávamos para ninguém ou pouquíssimas pessoas, então íamos lá para e ficávamos jogando até às oito da manhã e então, fazíamos mais do que vinte dólares… nós tocávamos músicas próprias e covers, eu era apenas um jovem comum tentando ser uma estrela, uma grande estrela do rock, e conseguir ser uma… eu soube muito cedo o quanto eu amava a música, e eu era apenas um garoto. Então, quero dizer, não tive escolha, eu tinha que fazer isso.

Rockzone: OK… e como foi entrar na banda do Alice Cooper, e fazer os dois álbuns e excursionar com eles?

Kane: Bem, quando eu comecei a tocar com a minha banda em Nova York nós recebemos um telefonema, pois estávamos abrindo para bandas como Joan Jett e Molly Hatched, bandas desse estilo, e recebemos esse telefonema que dizia que o Alice Cooper precisava de uma banda de abertura. Eu nunca tinha falado com ele nem nada, e me lembro de olhar para ele e ficar louco, saca? Aquele era o Alice Cooper! Nós nem mesmo falávamos com ele, fizemos o show e foi muito estranho… anos mais tarde, fui ao escritório deles em Manhattan, e conheci Chat Gordon, e Danny Markus, e Bob Ezrin, e então Alice Cooper, todos na mesma sala. E eu tinha que agir como se estivesse confiante, eu tive que me dizer “não estou nervoso”, entende o que quero dizer? E foi assim… engraçado! Alice e eu nos tornamos amigos imediatamente, e nao tinha nada a ver com música… assim que nos conhecemos, nos tornamos muito unidos, e acabamos saindo, muitas vezes o dia todo! A primeira coisa em que trabalhamos juntos foi, na verdade, uma versão “metal” e obscura do filme Sgt. Pepper, que iria ter Def Leppard, Twisted Sister, e Alice… todas essas bandas iriam participar do projeto, mas ele nunca se concretizou. Esse foi o nosso primeiro projeto, e então nós começamos o álbum “Constrictor”.

Rockzone: E o que você pode dizer sobre os seus discos solo, incluinfo o grande “Saints & Sinners”?

Kane: Bem, isso era o que eu queria fazer, e Alice e os empresários sempre deram muita força para eu fazer o que eu quisesse, entende? Foi uma decisão importante para eles mudar o som, mudá-lo para aquela época, então Alice e eu decidimos fazer aquele tipo de som. Nesse processo, os empresários também quiseram que eu fizesse os meus próprios discos. Eu fiz o meu primeiro disco, e foi mais ou menos assim: meu foco principal sempre foi a minha própria carreira, mas naquele ponto todo o foco era o que eu fazia com o Alice Cooper, mas eles me deixaram fazer outras coisas também. Eles me deram muita força nesse ponto. Então, quando comecei a fazer o disco, conheci Michael Wagener que tinha feito o disco do Dokken, e era um disco com um som incrível. Daí decidi trabalhar com ele, e trouxe alguns caras de Nova York para gravar comigo. Se eu tivesse que escolher, eu diria que gosto mais de algumas coisas desse disco do que “Saints & Sinners”, mas há coisas dos dois álbuns que são muito, muito especiais. “Women On The Edge Of Love” por exemplo, muitas pessoas não sabem, mas foi gravada por Pat Travers, e ele fez uma versão muito boa da música, e até um vídeo.

Rockzone: Por que você ficou tanto tempo afastado da música? 

Kane: bem, é engraçado. Me perguntam muito isso, e eu me pergunto muito isso. Eu acho que, de uma maneira, o que aconteceu foi que eu toquei com o Alice Cooper, eu fiz o álbum “Saints & Sinners”, e teve um momento que olhei a minha volta e disse “eu quero parar, não quero mais fazer isso por um tempo”. Foi uma decisão natural para mim, entende? Eu falava com Bob Ezrin que iria fazer outras coisas, que também tinham a ver com criar e produzir, e não importa o que você faça, você sempre estará produzindo alguma coisa. Ele disse, talvez há oito ou nove anos atrás, “preste atenção, você voltará a tocar”, e é onde eu estou no momento. Mas não fiz isso pela indústria da música, a parte dos negócios é realmente estranha, porque ela fica entre os fãs de música e as pessoas que escutam música. Se você faz um disco e alguém o ouve, e é tocado por esse disco, e então ainda tem o artista que, você sabe, seja qual for o nível, ou o que eles estejam tentando fazer… alguns deles são pura paixão, alguns fazem isso pelo dinheiro, mas muitas vezes a indústria musical fica no meio disso tudo. Quero dizer, eles têm muitas coisas com o que lidar, mas tem esses imbecis tomando decisões, você sabe, sobre como um disco deve ser lançado, como ele deve soar, e então alguns grandes álbuns nunca são lançados para o público. Estou um pouco de saco cheio disso. Foi meio que pensar “vou fazer outra coisa”… mas nao deixei minha guitarra de lado, eu toquei todo esse tempo. Fiz pequenos shows com amigos e coisas assim mas, sim, eu definitivamente me desliguei disso por um tempo.

Rockzone: Quais as suas expectativas para o show de hoje? 

Kane: Bem, estarei tocando com os caras do Talon, e será sensacional. Eu sempre digo que você tem um baixista, um baterista, todos esses caras. Iremos nos divertir! Pode soar bobo e idealista demais mas o membro mais importante é… bem, é o que você está criando, a energia que você está passando, e os fãs. É uma coisa muito estranha. O público está lá, criaremos uma energia de grau alto no palco. Então espero me divertir muito lá. Você sabe, não é uma banda com quem eu esteja tocando por cinco anos, entende? Então estaremos ensaiando até a hora do show, e estaremos tocando algumas coisas do “Saints & Sinners”, uma música do Phoenix Down, e duas músicas do Alice Cooper.

Rockzone: Tem músicas novas a caminho? 

Kane: Sim, eu tenho muitas coisas gravadas, que vim fazendo ao longo dos anos. Eu provavelmente tenho umas vinte músicas que estão em diferentes estágios para serem finalizadas. Eu quase tive alguma coisa para trazer para o Firefest, mas espero ter finalizado o disco antes do fim do ano…então, sim!!!

Rockzone: Quais os seus planos para o futuro? 

Kane: Bem, é engraçado quando se trata de lançar um novo álbum, hoje se faz isso de forma diferente. Não é mais a mesma coisa. Quando eu era jovem, você encontrava com um cara de uma gravadora, que ia aos piores clubes o tempo todo, para aqueles clubes que ficam na área ruim da cidade, ou ele recebia fitas cassete o tempo todo, e ele também ficava louco para encontrar alguma banda que ele achasse importante para a música. Bem, esses caras ainda existem, mas a indústria musical não sabe realmente lidar com a mudança na tecnologia (ele fala dos downloads), e isso acontece, isso já aconteceu na história da música. A tecnologia vem e ela muda completamente ou destrói a indústria musical, e nesse momento eu não acho que eles realmente saibam como promover a si mesmos musicalmente tão bem. Então, a minha intenção é estar em lugares como esse (ele fala do Firefest). Estas são as lojas de discos. Em outras palavras, você faz um show, e essa é a loja pela qual você tem que lutar para colocar um produto seu. As boas lojas de discos, as lojas de CDs, elas estão acabando, pois ninguém sabe como lidar com esse lance tecnológico. O que estou tentando fazer é concentrar-me na música, e também achar um selo que tenha um bom modelo de negócios, que saberia lidar com o futuro. Agora tem essa empresa japonesa com quem eu estava falando, e eles estavam dizendo a mesma coisa. Eles disseram”nós não fazemos mais CDs para lojas”. Eles fazem esses mega concertos, onde tocam dez, cinco ou oito bandas gigantescas, e eles montam essa loja de discos no show, onde tem milhares e milhares de pessoas. Dizem que hoje em dia um CD não é diferente de uma camiseta, ou de um chaveiro. Em outras palavras, o acesso aos produtos é mesmo nos shows. Essa é a maneira que eles vêem isso. Então, pensando dessa forma, é algo inovador e revolucionário. É claro que o negócio de fazer música é importante em termos de manter o foco e ter certeza que ela está em seu coração. Sabe, eu me lembro de quando eu estava trabalhando com Desmond Child, e ele me disse: “você nunca deve lançar nada que você mesmo não fosse comprar em uma loja”. Então essas são as coisas que estou procurando fazer ao gravar no futuro. Sim, continuarei tocando e gravando agora.

Rockzone: legal… algumas palavras finais para os leitores? 

Kane: Sim, eu acho que você apenas tem que, parece uma coisa básica, mas sabe, nós nos acostumamos com nossas vidas e temos muitos momentos que nós não sabemos o que fazer e, mesmo nos momentos mais altos em cima de um palco, tem aquela voz interior que de certa forma guia e leva você em direção das decisões certas, e como senti-las e curtir o agora de verdade. Eu acho que é isso – você tem que ouvir a si mesmo. Você sabe, todos estão gritando na sua cara o que você tem que fazer, mas você tem que ouvir a si mesmo.

Rockzone: OK, legal! Muito obrigado, Kane! 

Kane: De nada… ficou legal? (risos)

Por Criss Sexx

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