Entrevista com a METALMORPHOSE
1. Vocês foram uma das primeiras bandas de Heavy Metal do Brasil, nos anos 80. Como foi o começo e a aceitação do público que até então, ouvia Metal com as bandas internacionais?
André Bighinzoli: No início dos anos 80 eram muito raros shows internacionais no Brasil, quiçá de Metal. O Kiss no Maracanã, em 83, foi uma comoção! Da mesma forma, vídeos eram raríssimos. Havia muitas bandas que a gente nunca sequer tinha visto tocar, não sabia nem como os caras eram no palco. Então, o público sempre recebia muito bem as bandas nacionais. Metal ao vivo! O povo era muito carente disso, assim como nós.
2. Hoje em dia com as facilidades da internet e com o avanço da tecnologia online muitas bandas conseguem gravar um cd e divulgar o seu trabalho. Isso nos anos 80 ainda não existia. Conta pra gente como era para divulgar a música de vocês e as dificuldades que tiveram?
André Bighinzoli: Gravar um disco era caro como comprar um carro. No tempo em que tudo era analógico, a hora de estúdio era caríssima porque os equipamentos eram caríssimos. Tudo que se tem hoje em programas de computador, antigamente eram coisas físicas dentro de um estúdio (Mesa, gravadores de oito canais, compressores, equalizadores, efeitos periféricos, etc.) Isso sem falar em fitas de rolo, masterização e corte do disco, prensagem, capa, etc. Distribuição era outro problema sério. Havia grandes redes de lojas de discos que escoavam a produção das grandes gravadoras, tudo isso muito bem linkado com a divulgação massificada dos artistas das gravadoras nas rádios FM e novelas, grandes propulsores da venda de discos. Um artista independente tá fora de tudo isso e fora da possibilidade de divulgar seu trabalho. Nós vendíamos discos em shows e para pequenas lojas e sebos especializados em raridades. Com o passar dos anos, descobri que o nosso trabalho acabou chegando em muitas regiões do Brasil através de fitas cassette que eram gravadas e repassadas ou vendidas. A cópia da cópia, da cópia, da cópia. Em 2009, resgatamos essa dívida histórica lançando todo nosso material antigo em CD. Recebi retorno de fãs emocionados com a “qualidade” das gravações, bem superior ao material das fitinhas cassette que eles conservaram por anos.
3. Eu li que depois vocês acabaram adotando um estilo mais hard rock glam das bandas californianas. Como foi essa mudança e por que isso aconteceu?
André Bighinzoli: Nessa época, final de 85, eu havia saído da banda. Mas acredito que o Metalmorphose quis levar o Metal nacional ao mainstream, ou seja, tentar fazer sucesso num âmbito geral, em nível nacional. Só que não decolou. O nosso “hit” da época, a música “Correntes”, é muito boa. Tocamos ela em shows atualmente.
4. Em 2008, a banda retornou as atividades e voltaram a tocar juntos com os membros originais. Vocês ficaram 25 anos sem tocar?
André Bighinzoli: Imagina! Cada um seguiu seu caminho musical. Eu participei de algumas bandas e acabei formando o Genoma; o Tavinho teve o Gato de Louça, o André Delacroix esteve com o Celso Suckow no grupo de comédia musical Os Copacabanas e depois seguiu fiel ao Metal tocando com o Imago Mortis, Dust From Misery, entre outros.
5. Vocês participaram da homenagem dos 40 anos do Álbum Branco, dos Beatles. Como surgiu o convite e qual música do disco vocês tocaram?
André Bighinzoli: O Metalmorphose havia acabado de se reunir, em 2008, quando o Marcelo Fróes me convidou para participar do tributo aos 40 anos do Álbum Branco. Quando eu disse que o Metalmorphose tinha voltado, ele ficou empolgadíssimo. O Metalmorphose acabou entrando com Sexy Sadie e eu gravei a faixa Glass Onion (para a versão Indie). Foi muito legal porque essa gravação marcou de fato a volta do Metalmorphose.
6. De 1983 para cá, muita coisa mudou em termos de música. O que vocês andam achando da nova geração do rock?
André Bighinzoli: Hoje a coisa é muito mais conceitual. Antigamente o cara tinha que cantar pra cacete, o outro tocar guitarra pra cacete, o outro tocar bateria pra cacete, o outro tocar baixo pra cacete… Sinto falta disso.
7. Dentro do rock existe uma gama de estilo, mas além do Metal, qual estilo (dentro do rock) vocês costumam ouvir quando estão em casa?
André Bighinzoli: Gosto de música em geral. Mas confesso que continuo ouvindo o que ouvia em 83, que hoje virou o quê…? Classic Rock? Deep Purple, Black Sabbath, Led Zeppelin, Queen, Grand Funk…
8. Quais são os planos para 2011? Já estamos sabendo que vem disco novo por aí.
André Bighinzoli: É! Estamos imersos no processo de criação/gravação do disco novo. O primeiro de inéditas desde os anos 80, e tá ficando muito legal. Estamos orgulhosos!
9. Para a molecada que está querendo montar uma banda de Heavy Metal. Que conselho vocês dão?
André Bighinzoli: Meter as caras. Tudo é difícil mesmo. Acredite em você! É só isso que interessa.
10. O Rock Zone agradece muito a entrevista e se vocês quiserem podem deixar um recado para os leitores do site e para os fãs da banda.
André Bighinzoli: Um abraço a todos os headbangers e leitores da Rock Zone. Todos pelo Metal!
By Milena Calado