Saudações! Como prometido, o artigo de hoje vai ser exclusivamente dedicado à entrevista com Damn Laser Vampires, a banda de sucesso da qual eu falei semana passada. Pois bem, eu tive que atrasar um pouco a entrevista, pois o trio do capeta estava um pouco ocupado com a correria de shows, mas agora já tenho a entrevista em mãos, e vocês podem conferir a seguir!
Rockzone: Nos tempos de hoje temos que admitir que surgem bandas e sons novos, um mais mesclado que o outro. Mas Damn Laser Vampires chega ser única, pois não vemos muitas bandas parecidas com vocês aqui no Brasil. Essa singularidade do Damn Laser surgiu com um trabalho árduo voltado pra estética e etc, ou foi uma combinação que veio naturalmente ?
DLV: Veio naturalmente. Nós três trabalhamos com design e ilustração há muito tempo, por isso quando a nossa música surgiu ela já chegou, digamos, “vestida” desse jeito. Nos primeiros shows ainda não havia todos os elementos que usamos hoje, mas a banda já usava o visual como parte da coisa toda.
Rockzone: Como é que surgiu essa idéia de mesclar esse clima de “terror B direto das comics” que a banda possui?
DLV: Nós gostamos de quadrinhos desde que abrimos os olhos, eu acho. Lemos quadrinhos a vida toda. E especialmente quadrinhos de horror são a coisa mais deliciosa do mundo quando você é um freak desde pequeno (risos). Era inevitável que, se um dia montássemos uma banda, ela fosse nascer identificada com isso.
Rockzone: Desde a composição lírica, até o som de vocês em si, qual a influência musical que vocês mais seguem e se identificam ? (Bandas, etc)
DLV: Nos identificamos com o punk, mais do que qualquer outra coisa. Se você tem treze anos hoje em dia é possível que a palavra “punk” evoque a imagem do My Chemical Romance brincando de Sex Pistols na trilha do Watchmen, mas a coisa é um pouquinho diferente (risos). Parte da idéia por trás do punk é ser verdadeiro. Mesmo quando você veste um personagem, entende? É não ter regras nem preocupações sobre o que vão achar de você e do que você faz, desde que seja puro e venha de você. Gostamos de artistas que se movimentam nesse terreno. Tom Waits é punk. Bauhaus, Black Mekon, Pussy Galore. Jerry Lee. Não quer dizer que você precisa se comportar como um adolescente de seriado pro resto da vida. Não significa apenas agredir, significa ser você mesmo.
Rockzone: O gênero psychobilly podemos dizer que é o mais presente no som de vocês. Mas na música Graveyard Polka, o próprio nome já aponta para outro gênero tradicional presente que é polka. Por que a influência desse estilo no meio de tanto psychobilly ou, como vocês chamam “punk-polka” ?
DLV: Pra nós o punk tem muito de polka, e a polka tem muito de punk. Tem o mesmo espírito livre. São expressões do instinto, da alegria, da fúria. Combinam com festa, com celebração mas também com quebra-quebra. Polka soa pra nós como o punk antes da invenção da guitarra.
Rockzone: Quando decidiram montar a Damn Laser, vocês focavam crescer tão rápido como estão crescendo agora, ou era só uma distração e diversão pra vocês, que não daria a lugar nenhum?
DLV: Queríamos fazer só porque desejávamos aquela experiência. Eu particularmente achava que dentro de um ano teríamos sido esquecidos (risos). Obviamente não tínhamos uma visão muito responsável de nós mesmos. Mas isso foi a melhor coisa, porque nos poupou de qualquer ansiedade. Acho que começamos a entender que daria certo quando passamos a ser convidados pelas bandas pra tocar com elas, e começamos a identificar um pequeno grupo de seguidores crescendo. Isso foi em Porto Alegre ainda.
Rockzone: Vocês já fizeram algumas apresentações aqui no Rio de Janeiro, a última sendo na festa Ressaca do Rock, onde se apresentaram do lado de outras bandas de destaque aqui no Rio. Como é pra vocês tocar aqui num todo? O público, a produção a empolgação e etc ?
DLV: A sensação é como ter uma bela experiência sexual (risos). Sério, essa quantidade de energia que nós recebemos sempre que tocamos no Rio, e o modo como isso nos envolve, e também como os cariocas respondem à música e se divertem conosco… é muito energizante, muito estimulante. Claro que rock não é só sobre sexo, mas se eu puder fazer uma comparação, tocar pra um público como o do Rio é tão bom quanto. Sem falar que a produção é sempre incrível com a gente.
Rockzone: “O trio punk-polka favorito do Satã”. Como surgiu e como vocês definem esse título?
DLV: Isso foi um apelido dado pelo nosso amigo Josh Warfel, da Devil’s Ruin. Bom, digamos que ele é um cara que entende de assuntos satânicos…
Rockzone: O disco Gotham Beggars Syndicate foi lançado nas gringas. Canadá, Argentina e Estados Unidos. Como está sendo o andamento de vocês lá fora?
DLV: Considerando que estamos numa época em que as pessoas não compram mais discos, tem sido ótimo. O lançamento no exterior tem funcionado bem como disseminação do nome da banda, hoje temos fãs espalhados pelos continentes, existe um tipo de “círculo” onde somos bem conhecidos. A Devil’s Ruin está bem satisfeita com a carreira do disco de estréia até aqui, isso tem trazido uma boa publicidade tanto pra banda como pro selo. “Gotham…” foi o disco que inaugurou a DRR, depois dele muitas bandas procuraram o selo e hoje o cast deles é cheio de artistas excelentes. Além disso, “Graveyard Polka” foi relançada na coletânea “Rodentia: The Best Of Dark Roots Music”, que ficou entre os cem lançamentos mais vendidos no gênero pela Amazon.
Rockzone: Sendo o selo de vocês americano, vocês tomam foco em primeiro arrasar mais lá fora do que aqui no Brasil? Se sim, por que ?
DLV: Não é exatamente uma estratégia, é meio que o caminho natural. Fomos convidados pelo selo a entrar, não chegamos a procurá-lo. Tem sido assim desde sempre, a nossa música toma a dianteira e se antecipa a nós. O que fazemos basicamente é administrar as propostas que chegam e pensar em grupo antes de decidir qualquer coisa, mas não temos essa preocupação de virarmos um supergrupo, de nos tornarmos o próximo isso ou aquilo. Estamos exatamente onde queremos.
Rockzone: Os clipes do Damn Laser são dirigidos e atuados por vocês. Fale um pouco dessa parte do trabalho da banda. Vocês visam futuramente que alguém arranje tudo ou preferem fazer tudo sozinhos do jeito de vocês?
DLV: Curtimos dirigir os clipes pela diversão mesmo, e porque fica mais fácil de transmitir o que imaginamos. Mas não é uma coisa ditatorial, de não querer que ninguém trabalhe conosco; é apenas pela praticidade. Trabalhamos com outros diretores em duas ocasiões, sem problema. O ideal, na verdade, seria termos sempre alguma parceria técnica, que viabilizasse equipamento, iluminação, etc, sem necessariamente interferir na criação. Mas somos abertos a sugestões, gostamos de saber o que as pessoas tem a contribuir.
Rockzone: Podemos notar que os quadrinhos tem uma notável influência e importância na banda ainda mais por vocês três serem ilustradores e produzirem o material gráfico da banda. Existem outros elementos não pertencentes à fatores musicais que vocês carregam na banda?
DLV: Amamos cinema. Gostamos de pensar nas nossas tours e nas temporadas de shows como os antigos seriados de ação das matinês, porque é assim que vemos. Cada lugar um episódio, uma aventura. Cinema é uma referência permanente em tudo que fazemos. Talvez por incluir quadrinhos, música, figurino. É provavelmente a arte mais completa.
Rockzone: Vocês notavelmente também carregam uma forte influência punk. Grande parte das bandas de punk centralizam a maioria das letras falando sobre política e etc, (exceto os 77). Vocês não tem nada disso. Qual o tema principal das letras de vocês dentro do punk, ou é simples e aleatório?
DLV: A gente acha bem triste isso de ver jovens cantando política, porque política é pra gente velha e ranzinza. Sei que muita gente acha lindo que bandas de rock se preocupem com causas políticas, mas não existe a menor chance disso soar verdadeiro pra mim. Políticos não tocam guitarra, políticos são pessoas que se sentam e debatem coisas desagradáveis. Nós não montamos uma banda pra isso. Uma banda num palco cantando sobre aumento de salário nunca vai atrair a minha atenção. Nós estamos ali pra lhe dizer coisas como “vamos tomar um porre juntos e dançar no túmulo da arte”, e não pra lhe deprimir.
Rockzone: O que acham da cena independente brasileira no momento?
DLV: Se tem um assunto em que eu não sou autoridade MESMO, é a cena independente brasileira atual (risos)! O que eu sei é que, quando o assunto é música independente no Brasil, tenho ouvido mais política do que música, e eu sinceramente prefiro música.
Rockzone: Muita gente acha que pra ser banda independente brasileira, tem que no mínimo cantar português. O que vocês tem a dizer sobre isso?
DLV: Isso nem nos passa pela cabeça. O conceito de “identidade local” no rock, nessa questão do idioma, é totalmente equivocado.
Rockzone: Quais foram os principais acontecimentos que deram mais destaque à banda, durante todo o percurso de vocês até hoje?
DLV: Foram muitos… eu citaria alguns, sem ordem de importância: nossa aparição no programa Radar da TVE gaúcha em março de 2006, o filme Ainda Orangotangos, a apresentação no Goiânia Noise em 2007… o vídeo ao vivo tocando Los Saicos foi espalhado por blogs e fórums sobre punk sulamericano e até hoje faz sucesso em países da América Latina, recebemos muitas manifestações legais… o show no Psycho Carnival de 2009, a matéria de página inteira na Rue Morgue Magazine… tem mais, mas agora me lembro mais desses. Ah, e o vídeo de “Boom Shack-a-Lak”!
Rockzone: O recente lançamento em clipe do Boom Shack-A-Lak é um clássico muito popular, que aliás vocês arrasaram na versão. Como e porque escolheram justamente essa música?
DLV: A gente adora a versão original do Apache Indian. É uma música irresistível, uma das gravações mais legais dos anos 90. Demos a ela a nossa “cara” e começamos a tocá-la nos shows, porque queríamos tê-la no nosso set. Quando veio a oportunidade de fazer o vídeo, não pensamos duas vezes.
Rockzone: E os próximos passos da banda? Shows, lançamentos etc? E espero que voltem ao Rio logo!
DLV: Também esperamos! E vai rolar, com toda certeza. Bom, acabamos de gravar o disco novo, “Three-Gun Mojo”, e estamos trabalhando na produção gráfica, que vai ser bem caprichada. Alguns atrativos interessantes estão sendo preparados pela DRR junto com a banda para o lançamento do disco e eles em breve serão anunciados. Antes do disco sair lançaremos um lindo vinil de sete polegadas com DLV de um lado e o mestre do blues trash Uncle Butcher de outro, a perspectiva disso está nos deixando elétricos.
Rockzone: Se quiserem deixar uma mensagem para os admiradores cariocas, mandem bala!
DLV: Quero agradecer em nome da banda, e só repetir o que já dissemos aí no Rio; nós gostamos cada vez mais desse lugar, e somos uns sortudos por tocar pra vocês.
By Morgana (synthemesca)